Com passagens pela Universidade de Colônia, na Alemanha, e colaborações com grandes nomes da genética evolutiva, Rodrigo Nunes foi um dos primeiros pesquisadores do Brasil a abrir um laboratório para testagem da Covid-19, liderando ações de diagnóstico molecular e vigilância genômica em Macaé durante os momentos mais críticos da pandemia. Naquela fase, desde 2020, o laboratório de diagnóstico molecular e vigilância genômica em Macaé do Nupem/UFRJ realizou cerca de 35 mil testes moleculares de Covid-19, sendo o pioneiro entre universidades públicas brasileiras em oferecer este serviço à população local. Além disso, desenvolveu vigilância genômica, sequenciando variantes do vírus que circularam em Macaé e região.
No atual cenário pós-pandemia, o laboratório permanece ativo, com foco em pesquisas de doenças infecciosas e vetores, especialmente arboviroses emergentes. “O apoio da Prefeitura foi fundamental naquele momento e esperamos que este se reestabeleça para que possamos manter e ampliar essas ações” disse o professor. Ele explica que as pesquisas Evo-Devo impactam diretamente a saúde pública ao fornecer subsídios para o controle de vetores de doenças como dengue, zika, chikungunya, febre do Oropouche e oncocercose.
“Ao entender profundamente o ciclo de vida e a genética destes organismos, conseguimos propor soluções inovadoras e menos dependentes de pesticidas. Além disso, Macaé possui um patrimônio natural único: fragmentos de Mata Atlântica, restingas, manguezais, ambientes marinhos costeiros e recursos hídricos diversos. Esses ecossistemas abrigam uma fauna riquíssima e representam cenários ideais para pesquisas em biodiversidade e adaptação. Ao integrarmos saúde pública e conservação ambiental, conseguimos gerar conhecimento que protege tanto as pessoas quanto o ambiente – um modelo de ciência com impacto local e relevância global”, enfatiza.
A Biologia Evolutiva do Desenvolvimento busca entender como os genes controlam os processos de formação dos organismos e como estas trajetórias evoluíram ao longo do tempo. “Quando aplicamos essa abordagem a artrópodes negligenciados – como mosquitos transmissores de doenças tropicais (dengue, Zika, chikungunya) e moscas negras (Simulium) – buscamos entender, por exemplo, como surgiram estruturas relacionadas à hematofagia (alimentação com sangue) ou como se dá a adaptação destes organismos a diferentes ambientes. Isso nos ajuda, por exemplo, a identificar pontos vulneráveis do desenvolvimento destes vetores, que podem ser alvos de controle mais eficaz e ambientalmente sustentável”, esclarece o cientista.
Oropouche
Durante a pandemia, o laboratório do Nupem, para realizar as testagens, envolveu uma grande equipe de professores, técnicos e estudantes do instituto e recebeu apoio de instituições públicas e privadas. Os estudos de mosquitos como Aedes aegypti, Culex quinquefasciatus e em moscas negras (Simulium spp.) prosseguem atualmente, com foco na regulação do desenvolvimento, adaptação ambiental e novas abordagens genômicas para controle vetorial.
“Estamos também no início da avaliação dos casos de Oropouche e da presença dos vírus nos vetores dessa doença dependendo de liberação de recursos. Estas pesquisas também envolvem o estudo da interação entre os vetores, os patógenos e o ambiente natural – algo possível justamente pela riqueza ecológica de Macaé, que permite aliar ciência, conservação e saúde pública em uma mesma estratégia”, salienta o pesquisador.
Nos últimos meses, o laboratório do Nupem apresentou duas propostas institucionais à Prefeitura de Macaé. Uma delas, coordenada pelo Prof. Dr. Amilcar Tanuri (UFRJ/RJ) e por Rodrigo Nunes, trata do monitoramento e estudo da febre do Oropouche. A outra, coordenada pela diretora do Nupem, Profª Dra. Cintia Monteiro de Barros, é voltada ao diagnóstico genético e estudo de doenças raras, fortalecendo o atendimento a famílias da região.