Homenagens, celebração, resgate da cultura afro e reflexões marcaram o Encontro da Resistência no Morro de Santana, na tarde deste sábado (2).A área da centenária Igreja de Sant´Anna reuniu um público diversificado, como moradores e visitantes de Macaé. Na ocasião, a Prefeitura de Macaé, por meio da Secretaria Municipal de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, também destacou o reconhecimento do Dia da Capoeira, cuja data alusiva é neste domingo (3).
A programação que recebeu capoeiristas, estudantes, educadores, representantes de movimentos negro , secretários municipais e autoridades também foi voltada para apresentações de manifestações, como capoeira, samba de roda, jongo, feira de artesanato e atuação de trancistas. Em um clima de emoção, o evento contou com homenagens às referências da capoeira de Macaé, como o mestre Celso Carvalho Nascimento, que foi acompanhado do capoeirista Altemir Silva.
“Estou muito feliz de estar nesse encontro. A capoeira é uma pedra preciosa e você não pode dar pra qualquer pessoa, você tem que dar aquela pedra para alguém que vai colocar ela num bom lugar. Aprendi capoeira no Rio de Janeiro com Artur Emílio. A capoeira está no mundo todo e temos que valorizar”, destacou.
Também foram apresentadas rodas de jongo, capoeira e maculelê com participação da comunidade. Os talentos do artesanato e culinária da cultura afro-empreendedora foram destacados e comercializados. O público também teve oportunidade de assistir apresentação da Sociedade Musical Beneficente Lyra dos Conspiradores e da Escola Antirracista Colégio Municipal Professora Elza Ibrahim de Macaé , que abordou vivências do projeto Encantados com os estudantes do 8º ano. Pedro da Silva e Levi da Rocha confessaram que ficaram admirados com tudo que foi transmitido na programação.
“Viemos aprender mais e também realizar uma pesquisa sobre a relação étnica-racial em Macaé. Gostamos muito de tudo”, falou Pedro.
Abertura
A cerimônia de abertura do Encontro da Resistência contou com o vice-prefeito, Dr Fabiano Paschoal, que representou o prefeito de Macaé, Welberth Rezende, a Secretária de Promoção da Igualdade Racial, Ingrid Aprígio, a Subsecretária de Promoção da Igualdade Racial de Macaé, Sheila Juvêncio, o professor e representante do Colégio Municipal Elza Ibrahim, Naicon de Souza, a professora do campus da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ-Neab) , Rute Costa, o Secretário de Esportes, César Maillet, que participou da roda de capoeira.
Também estavam presentes: Ivânia Ribeiro Silva; presidente Sociedade Musical Beneficente Lyra dos Conspiradores, a Secretária Executiva de Ensino Superior, Iza Vicente; a representante do Conselho Municipal de Políticas Culturais de Macaé, Conceição de Maria Pereira Alves Rosa; o representante da Ouvidoria Geral do Município, Alex Xavier; e a vereadora Liomar Queiroz, que representou o Legislativo do município.
Para o vice-prefeito de Macaé, o Encontro da Resistência é uma programação ímpar para o município.
“Parabéns a este evento, que marca uma história para avançarmos. A população negra tem a maioria da sociedade, mas temos que fazer acontecer. O nosso Governo está cada vez mais pautado em políticas públicas que tratam da igualdade. Vamos trabalhar para que a gente possa sair dos bastidores da sociedade.. Esse é o principal objetivo, mas para que isso possa acontecer, todos nós juntos, 56% da população nacional tem que se unir e avançar. Para mudar a história, o futuro, temos que fazer algo no presente”, pontuou Dr. Fabiano, ao citar a sua trajetória de vida acompanhado da esposa e filha.
A Secretária de Promoção da Igualdade Racial, Ingrid Aprígio, solicitou que os integrantes dos grupos de capoeiras que estavam presentes participassem do mapeamento de capoeiristas do município. O formulário online está disponibilizado no site oficial da prefeitura e também estava disponível no evento.
“Reafirmamos aqui o nosso compromisso com a valorização e fortalecimento das expressões culturais negras, como a capoeira. Reconhecemos a capoeira como gesto político, arte, filosofia de vida, de espaço de pertencimento, enfrentamento ao racismo e fortalecimento da juventude. É muito bom estar aqui no Morro de Santana, agradeço a todos que contribuíram para este evento acontecer. Este encontro é um chamado. A capoeira é uma afirmação que molda a história do nosso povo. Hoje, mais do que celebrar, estamos aqui para reconhecer a capoeira como muito mais do que um jogo, uma dança ou um esporte. A capoeira é um grito ancestral de liberdade. Nasceu das dores da escravidão, mas também da genialidade de um povo que mesmo acorrentado criou formas de manter viva a sua identidade, sua cultura e a sua esperança. Precisamos romper com a lógica de que aquilo que vem das periferias ou das tradições afrodescendentes pode ser folclorizado, esvaziado ou apenas como um entretenimento. A capoeira é patrimônio imaterial do Brasil e do mundo e tem o direito de existir, ser ensinada e ser política pública. Agradeço a cada um que é guardião da capoeira.”, comentou a secretária.
Ao representar o Legislativo, a vereadora Liomar Queiroz, afirmou que o Encontro da Resistência é de suma importância.
“Este dia tem que ser lembrado, pois temos que respeitar a história. Temos que respeitar o quanto nossos ancestrais lutaram para que hoje pudéssemos estar aqui. Sou apoiadora da resistência.Tudo aqui é uma questão de honrar a nossa história, e cada passo que damos com fé, com cultura e memória é um reconhecimento à nossa história, é o pertencimento contra o esquecimento. A resistência não é só política, ela é ancestral. No som do tambor, nas orações das nossas mães, que oram muito por nós, nas vozes que nunca citaram e que sempre são persistentes.Temos que celebrar e valorizar a ancestralidade. Temos que ser resistentes na luta”, salientou.
Durante o evento receberam homenagens os capoeiristas de Macaé: Mestre Dengo, Levi, Lequinho, Vladimir Velasco (Coala) Joci Pereira Junior (Macaé), Cisinho e a professora Patrícia Bastos. Manoel da Cruz Vieira, o mestre Dengo, saudou a todos por ganhar a homenagem.
“Agradeço pelo reconhecimento. Estou honrado de estar junto a vários capoeiristas e representantes da cultura preta. Que continuemos mobilizados em prol da capoeira , igualdade e combate à discriminação”.
Vale lembrar, que o Prefeito Welberth Rezende sancionou a Lei 5.230/2024, estabelecendo que a data passe a fazer parte do calendário oficial do município. A Lei é considerada um marco importante na valorização e reconhecimento profissional dessa atividade ancestral e essencial para a identidade cultural afro-brasileira. A Prefeitura de Macaé também tem a proposta da realização de um curso amplo de Letramento Racial. A formação, que está prevista na Lei Ordinária nº 5.269/2024, tem o objetivo de promover o conhecimento sobre a história e cultura afro-brasileira, bem como a prevenção do racismo no âmbito da gestão pública.