Macaé celebrou, nesta segunda-feira (30), o Dia do Orgulho Autista (18 de junho), com um encontro entre servidores da Secretaria de Desenvolvimento Social, Direitos Humanos, Acessibilidade e Economia Solidária, no auditório do Paço Municipal. Palestras, vídeos e trocas de experiências fizeram parte da programação. O evento foi organizado pela Coordenação Geral de Políticas para Pessoas com Deficiência (PcD) e pela Coordenação de Psicologia e Gestão do Trabalho.
O secretário de Desenvolvimento Social, Direitos Humanos, Acessibilidade e Economia Solidária, Daniel Raony, abriu o evento, que teve como tema ‘Autismo e SUAS: Caminhos para o Acolhimento, Inclusão e Defesa de Direitos’.
“Um momento de debates e trocas é importante e faz parte deste processo de conscientização. O Transtorno do Espectro Autista (TEA), além de suas peculiaridades, há o fato do aumento do número de pessoas com diagnóstico. Tendo acompanhamento, os autistas ganham mais autonomia e exercem seus papéis como cidadãos que são. Eles vão buscar o Centro de Referência de Assistência Social (Cras), o Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas) e outros equipamentos de assistência social. Precisamos conhecer a melhor forma de lidar com pessoas autistas”, disse o secretário.
“Não poderíamos deixar de celebrar o dia 18 de junho, mas o trazendo para a realidade da Secretaria de Desenvolvimento Social, Direitos Humanos e Acessibilidade, que lida com muitas particularidades e muitas vulnerabilidades. Que estas informações possam ser compartilhadas com os colegas de trabalho das unidades”, completou a coordenadora de Políticas para PCD, Caroline Mizurine.
Já a coordenadora de Psicologia e Gestão do Trabalho da Secretaria de Desenvolvimento Social, Leiriana Ferreira, ressaltou que a proposta do evento foi salientar o papel dos servidores do Sistema Único de Assistência Social (SUAS) na promoção da política de inclusão para PCD. A palestrante convidada foi a coordenadora da Clínica do Autista; Lucia Anglada, mãe de Lucas, autista nível três de suporte, e presidente de honra, junto a Caroline Mizurine, do movimento Motivados pelo Autismo Macaé (Mopam), há 8 anos no município.
A Clínica do Autista foi inaugurada em Macaé em 31 de março. O espaço terapêutico presta atendimento individualizado e multiprofissional a crianças de dois a 11 anos que apresentam TEA. Ela funciona de segunda a sexta-feira, das 8h às 12h e das 13h às 17h, na rua João Cupertino, 157, no Centro. Fora a palestra, foram apresentados três vídeos para reflexão sobre o contexto em que o autista se insere. Logo após, houve um momento para debates.
Transtorno do Espectro Autista (TEA)
Em sua palestra, Lucia Anglada contou que fez alguns vídeos perguntando a adultos autistas o que é ter orgulho de ser autista e um deles respondeu:
“Eu sou o que sou. Não sou uma pessoa estranha. Não sou problemática. Sou autista e a sociedade precisa me entender como eu sou. Tenho dificuldades de conviver com uma sociedade que não está preparada para conviver comigo”.
Lúcia enfatizou que é importante que tutores de crianças e adolescentes autistas os apresentem à sociedade e chamou a atenção para o perigo do bullying nas escolas e nos setores de trabalho.
“Se exigimos que a sociedade seja empática com os nossos filhos, temos que apresentá-los para que ela aprenda a conviver com eles. Ainda estamos no processo (…) O grau de suporte de tutores necessário ao autista define o nível, que varia do grau um (pouco suporte) ao grau três (muito suporte). O grau um do TEA era conhecido como Síndrome de Asperger. Eles estudaram, trabalham e constituíram família. Muitos pais de autistas estão recebendo diagnóstico na fase adulta. Eles consideram libertador saber quem são. O grau um de suporte não é leve. São os que estão vulneráveis a sofrer bullying, entrar em depressão e a cometer suicídio. Isso porque eles têm consciência que há algo diferente neles e muitas vezes sofrem sozinho. Os dos níveis dois e três não têm esta consciência. Os ambientes escolar e de trabalho precisam estar adaptados para eles. O bullying precisa ser erradicado das escolas e dos setores de trabalho. Isso é cidadania. Eu sei que há servidores públicos autistas que sofrem bullying. Precisamos nos livrar do capacitismo”, frisa.
Capacitismo é a discriminação e preconceito contra PCD, baseado na crença de que elas são inferiores ou incapazes devido à sua condição. O capacitismo marginaliza e exclui PCD, impedindo seu pleno exercício da cidadania. Lúcia apresentou os símbolos das PCD e estatísticas. A proporção na sociedade de autistas é de um para 31 pessoas e de quatro pessoas do sexo masculino para uma do sexo feminino. Ela aponta que a grande maioria dos casos está relacionada a fator genético, mas fatores ambientais também estão implicados.
Ela reforçou a importância do tratamento e informou que algumas comorbidades podem acompanhar o diagnóstico de autismo como: transtorno do sono, Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), deficiência intelectual, epilepsia, problemas gastrointestinais, seletividade alimentar, sensibilidade auditiva, baixo filtro social e insensibilidade à dor.